Muitas pessoas foram conhecer o local após ouvirem a música, que leva o nome de Lumiar
A música, composta por Beto Guedes e Ronaldo Bastos, foi lançada em 1977. Muita gente, que hoje mora em Lumiar, foi conhecê-la devido a música. Daí pra frente foi um passo para se apaixonarem e voltar para morar
Quem foi morar em Lumiar ou foi visitar o lugar por causa da canção, está lá por causa do que é descrito na letra, que exalta as belezas naturais e descreve o ambiente com frases de encantamento. O distrito de Nova Friburgo fica em área de mata atlântica, na Reserva Florestal de Macaé de Cima, onde nasce o Rio Macaé. A floresta de 7.000 hectares está em uma altitude entre 880 e 1.720 metros. Grande parte da reserva florestal se localiza na bacia hidrográfica do Rio Macaé e seu afluente, o Rio das Flores. Essas águas possibilitam o surgimento da maior parte das cachoeiras e lagos da região.
A Lumiar de natureza quase intocada mudou bastante, muito por causa da música. Antes, o local era basicamente uma área rural, com plantações, criações de animais e muitos sapos, como lembra a moradora Ana Bastos, que sabe quanto o distrito se transformou, sobretudo ao redor da praça, onde fica a maior concentração de bares, restaurantes e pousadas. "O pessoal que veio naquela época aprontava. Faziam farra nos rios, nas cachoeiras, nas padarias. Era muita gente diferente chegando de uma vez. Eles ficavam felizes com o que viam aqui", diz Bastos, sorrindo.
Quando a música foi lançada, Dercy Klein, 58 anos, tinha 13 anos. Nascido e criado em Lumiar, hoje ele é conhecido como "vovô" e é responsável por um bar que leva seu apelido, um dos locais mais frequentados do distrito. Klein viu muita coisa acontecer. "Praticamente 90% das pessoas que chegaram em Lumiar naquela época vinham por causa da música. Primeiro foram os hippies, depois, quando chegou asfalto e luz elétrica, os hippies foram para o Sana, mas mesmo assim nunca mais parou de vir gente para cá por causa da música. Ou para ficar ou para passear", conta ele que, ao ser questionado se a canção foi responsável pela instalação de energia elétrica e calçamento das ruas, respondeu: "Claro que sim. Essa música mudou tudo por aqui".
Embora o disco "A Página do Relâmpago Elétrico" e a música "Lumiar" não tenham sido os maiores sucessos de venda do período, entraram na onda dos "alternativos" da época. Beto Guedes, toda a turma do Clube da Esquina e suas ramificações eram a fruta da estação de um grupo que abraçou esses artistas e os reverencia desde então.
Em 1977, o distrito tinha apenas uma pousada. Hoje são mais de 100 — o número é parecido ao de outros distritos ou cidades com o mesmo estilo de turismo, como São Thomé das Letras (MG). Hoje cerca de 6.000 pessoas vivem em Lumiar.
A música
Beto Guedes fez a música antes mesmo de conhecer Lumiar. A letra foi inspirada em histórias contadas pelo parceiro de composição, Ronaldo Bastos. O compositor ficou tão empolgado com as narrativas de Bastos que quis fazer a música e conhecer o distrito. Os versos não enganam: "Contando caso de como deve ser Lumiar...".
O músico local Thadeu Camargo afirma que a Lumiar de hoje não é a mesma que conheceu nos anos 1980. "Cresceu demais, né?". Contudo, garante que a alma do lugar se mantém. "O lugar não é mais um vilarejo, mas ainda é muito especial. Muito mesmo. O sol, a chuva, a lua, a água, os abraços, o papo nos bares, a estrada de barro das roças, o vento das montanhas, os vaga-lumes, o entardecer... Enfim, é um espírito de paz, de luz. Essa sensação de familiaridade, de compatibilidade, de toda hora achar que vivi aqui desde sempre, não vai embora nunca."
Seja um parceiro do Salada Cultural e nos ajude a divulgar a arte e cultura brasileira.
Envie suas notícias e informações para nós!